quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Servidão Humana

" -Ora,que tolice!A coisa não é tão grave assim.O que é preciso é tomar precauções.Por que não deixa de beber?
 -Porque não quero.Que importa o que um homem faz,se está pronto a aceitar as consequências?Pois bem, eu estou pronto a aceita-lás.Para ti é facíl falar em deixar a bebida ,mas essa é a única coisa que me resta.Sem ela, que seria a vida para mim? Podes compreender a felicidade que o absinto me dá?Ardo por ele e quando bebo saboreio gota a gota, e depois sinto a alma a nadar numa felicidade inefável.Isso te repugna.És um puritano e no íntimo desprezas os prazeres dos sentidos.São os mais violentos e refinados.Sou um homem dotado,por sorte, de sentidos muito agudos e me entreguei a eles de toda a alma.Agora é preciso pagar o tributo, e estou pronto para isso.
 Philip contemplou-o por um instante.
 -E não tem medo?
  Durante alguns sengundos Cronshaw não respondeu.Parecia pensar no que ia dizer.
  -As vezes,quando estou só.Pensas que isso é uma condenação?Estas enganado.Não tenho medo do meu medo.A doutrina cristã,segundo a qual a gente deve viver com os olhos sempre postos na morte,é uma loucura.A única maneira de viver é esquecer a morte.A morte é sem importância.O temor dela jamais devia influenciar a menor das ações dum homem sábio.Sei que vou morrer lutando para respirar e sei que hei de ter um medo horrível.Sei também que não me será possível evitar o amargo arrependimento do gênero de vida que me levou a tal circunstância; mas desde já desautorizo esse arrependimento.E agora, alquebrado ,velho ,doente,pobre,moribundo,tenho ainda nas mãos a minha alma e não me arrependo de coisa alguma."

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